quinta-feira, 12 de maio de 2011

Dilema

Era primavera quando decidi não mais decidir. Depois de muito caminhar, deitei por sobre a grama, debaixo do ipê que amarelava a paisagem, perto da praça. Sua sombra me acarinhava, vista e pele, ardidas do sol. Pus os óculos escuros de canto e me perguntei, depois de um ou dois suspiros:
- E se eu jogasse uma moeda pro ar?
O vento, manso e fresco, parecia querer opinar. Ele soprava a favor de Jerônimo, assoviando em meus ouvidos algo que me fez lembrar aquela velha canção que tanto embalou meus antigos sonhos proibidos. Antigos, porque mais tarde, Jerônimo e eu fizemos questão de realizá-los todos, quase que de uma só vez.
Mas eram sonhos demais pra uma noite só! Ao pensar nisso, era impossível não me escapar um sorriso pingado de malícia, do canto da boca.
Já os passarinhos... Estes eram do time de Heitor. Primeiro porque ele também era cantador, dos que acham tudo sempre lindo, mesmo em dias de muito chover e muito trovejar. Eles estavam eufóricos, cantando ao redor, como quem dizia: "É ele, Helena! É ele! Não o deixe escapar."
Lembrar de Heitor também me fazia sorrir. Mas era um sorriso diferente, desses que te deixam com cara de bobo, mas que, ainda assim, te iluminam o rosto.
E eu sorria bobamente por alguns segundos, lembrando de Heitor, induzida por sabiás e canários, até vir o vento me assoviando cânticos proibidos, acendendo pensamentos libidinosos e arrepios de desejo.
Pus então as mãos nos ouvidos, a fim de tapá-los, e não mais ouvir a natureza, já que ela não parecia querer ajudar. Levantei subitamente, fui até a praça calçada e tirei a moeda do bolso.
- Cara, Jerônimo; Coroa, Heitor.
Fechei os olhos e joguei-a desastradamente para o ar. Alto demais, longe demais e, ainda assim, esperei ouvir algum som que indicasse que ela havia tocado o chão, mas nada. Abri lentamente os olhos, voltados para baixo. Eu ansiava e ao mesmo tempo sentia receio pela resposta.
Pensei ter perdido a moeda valiosa, incumbida de tamanha missão, quando me dei conta de que logo ali à frente, passos lentos em minha direção, estava a minha resposta.


- Procurando sua moeda? – perguntou o moço de olhar estranhamente familiar, vindo de não-sei-onde, pra nunca mais voltar.



-Si-sim. – gaguejei.




- Aqui está.


- Obrigada! - sorri envergonhada.


- A propósito, me chamo Carlos.


- Me chamo Helena.


E foi assim, sem tirar nem pôr, que entre a cara e a coroa, escolhi o acaso.

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